Leia o artigo “De carnaval e de independência” do conselheiro Inaldo da Paixão (TCE-BA)

 

Inaldo da Paixão Santos Araújo

Mestre em Contabilidade, Conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia, professor da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e escritor.

inaldo_paixao@hotmail.com

Passados 7, 8, 9, 10, 11 […] de setembro de 2021, creio que posso escrever este artigo. Como sempre confesso, escrevo no dia da criação.

– “Meu bom baiano, no último dia 7 de Setembro você foi ao Circuito Dodô ou ao Circuito Osmar?”

Foi com essa pergunta que um amigo-irmão, com quem há muito não conversava, iniciou nosso diálogo no WhatsApp.

Como não estávamos no mês da festa da carne, e ele não é baiano, custei a entender, afinal, baiano sou eu, o que estava por trás da capciosa pergunta.

Para os não iniciados às idiossincrasias deste estado da alegria que chamamos Bahia, Dodô e Osmar são os responsáveis pela invenção do trio elétrico e da guitarra baiana, sem qualquer malícia também chamada de pau elétrico.

Basta uma breve pesquisa na Wikipédia, a enciclopédia livre, para descobrir que, no carnaval de Salvador, o Circuito Dodô ou o “circuito alternativo”, à beira da praia, vai do Farol da Barra até Ondina e totaliza cerca de 4 km. O Circuito Osmar, ou do Campo Grande, é, ainda, o mais tradicional do carnaval baiano e tem um percurso aproximado de também 4 km.

Logo, o meu amigo-irmão queria saber se, no último dia da independência, eu tinha ido às manifestações a favor (na Barra) ou contra (no Campo Grande) o atual ocupante do Palácio do Planalto.

Ao lhe responder, sorri, entrei no clima e lhe disse que meu abadá não era amarelo, tampouco vermelho. Meu abadá é e será sempre azul, vermelho e branco. Cores da Bahia e do Bahia.

Mais uma vez saio do leito deste artigo para explicar aos meus leitores não baianos que abadá em Salvador não significa a bata ou túnica branca usada pelos muçulmanos que aportavam no Brasil como escravos, ou o antigo uniforme dos trabalhadores portuários, tampouco as calças usadas pelos capoeiristas, mas, tão somente, uma camisa de pano barato e de preços estratosféricos vendida para permitir o acesso a um bloco de carnaval ou a qualquer outro evento festivo. Também esclareço, embora não tão necessário, que Bahia com h é, ao mesmo tempo, o estado da Baía de Todos-os-Santos, onde nasci, e o nome do time do meu coração, que, para diferenciar do estado, também é chamado de Bahêa.

Voltando ao leito, ele me confessa que, lá no estado dele, ele também não foi, como disseram uns poucos, para a “festa cívica”. Não que sejamos contra protestos pacíficos, nem poderíamos sê-lo, pois, no Brasil, o direito de protestar é garantido pela combinação de três direitos fundamentais elencados na Constituição. São eles: Liberdade de Expressão (Art. 5º, IV); Liberdade de Reunião (Art. 5º, XVI) e Liberdade de Associação (Art. 5º, XVII). Entretanto, em tempo de pandemia, aglomeração não!

Por fim, disse-lhe ainda sorrindo que não me preocupo com o 7 de Setembro, pois, na Bahia, a independência em relação ao despotismo somente ocorre um ano depois, no dia 2 de Julho.

 

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