“Alma feminina” artigo do conselheiro Inaldo da Paixão (TCE-BA)

Ponto de Vista: Alma feminina

Nunca me considerei uma pessoa preconceituosa, muito pelo contrário. Sempre procurei enxergar o diferente como nada além de algo desconhecido e que, como tal, se me interessasse, eu deveria conhecer. Para mim, enxergar dessa forma nos desnuda de qualquer prejulgamento.

No entanto confesso que tenho achado o mundo muito complicado, principalmente pelo fato de parte das pessoas ter a necessidade de julgar a todo o instante.

Palavras ou expressões há muito ditas podem não ser mais politicamente tão corretas. Elogiar alguém ou fazer uma crítica construtiva também não. Isso pode ser confundido com machismo, pode parecer ironia, pode ofender sem que a ofensa fosse o objetivo. Às vezes até a própria admiração se torna questionável.

Eu, por exemplo, confesso que adoro a alma feminina, procuro ter um pouco dessa porção mulher que tem sensibilidade e delicadeza. Sendo assim, por coerência, as mulheres terão preferência sempre.

E dou razão a Pepeu Gomes quando canta que “ser um homem feminino não fere o meu lado masculino”. Aliás, essa música é bem curiosa, pois a letra não foi feita por ele, mas por Baby, na época sua esposa, que teve a sensibilidade de perceber o quanto faria toda a diferença a sua canção ser cantada por um homem que faria jus a ela.

Afinal, “se Deus é menina e menino” e como todos somos filhos de Deus, não há por que haver diferenças entre nós. Assim, deduz-se que somos iguais, independentemente de credo, de cor, de sexo, de sexualidade […]. Enfim, como filhos de um único Pai, somos todos iguais.

Ao rememorar essa canção, recordo também um tipo de situação que me preocupa quando envolve o fato de ser homem ou mulher: o julgamento infundado.

Certa feita, eu fui convidado, de última hora, para mediar uma apresentação, em um evento nacional. Como não pude me planejar com antecedência, procurei rapidamente me preparar, buscando conhecer um pouco sobre os painelistas e sobre o tema para tentar fazer minha messe, na medida do possível, da melhor maneira.

Os painelistas eram dois homens e uma mulher. Antes de iniciar e de fazer as devidas apresentações, por admirar a sensibilidade feminina, perguntei respeitosamente à painelista se poderia posicioná-la à minha esquerda, pois, por ser o lado do coração, eu entendia que era lá que as mulheres deveriam estar, como uma demonstração de carinho, respeito e atenção. Ela me respondeu que não se incomodaria, e até sorriu e brincou.

Concluídas as apresentações, procurei não fazer juízo de opinião. Enalteci o trabalho dos três de igual modo e, ao finalzinho, como já passava das 18 horas, e o público estava realmente cansado, eu, como bom cristão e nordestino que sou, lembrei-me da Ave-Maria sertaneja e, de joelhos para todos, disse: lá no meu sertão, quando batem as 6 horas, como diz Luiz Gonzaga, o sertanejo, de joelhos sobre o chão, faz a sua oração: “Ave-Maria mãe de Deus nosso senhor”. Todos aplaudiram e saíram felizes.

No dia seguinte, entretanto, para a minha estranheza, li um comentário da painelista no Facebook, dizendo ter participado de um evento machista, porque ela era a única mulher do evento a palestrar. Não cheguei a verificar isso, mas, se razão assistia a ela, de fato houve um erro da organização. Mas já não cabia fazer mais nada para reverter isso, posto que o evento já havia ocorrido. A única possibilidade seria, em outras ocasiões, atentar para não novamente errar.

No entanto o mais surpreendente estava por vir, pois também foi dito por ela que o moderador, este Inaldo que vos escreve, foi machista ao dizer que queria tê-la do lado esquerdo, perto do coração, e que ainda se ajoelhou, distorcendo a minha fala e todo o seu contexto.

Fiquei perplexo, pois, como mencionei, eu perguntei, antes de expor-lhe a questão do coração, se poderia assim fazer, e ela não apenas consentiu, mas também sorriu.

São coisas que a gente não entende, que não têm explicação e que decorrem desses tempos tão estranhos, tão complicados.

Comentando com uma colega que presenciou a apresentação e leu a mensagem no Facebook, já que tudo hoje vai para as redes sociais e é acessível a todos, ela se mostrou bem chateada com a situação e criticou a postura da painelista.

Falei, então, da minha preocupação em como elogiar uma pessoa hoje em dia. Questionei: e se for uma pessoa a quem eu queira bem? Se eu quiser lhe elogiar, por exemplo, como farei?

Ela me respondeu: “Pode dizer que eu sou bonita, Conselheiro, que eu vou gostar e muito!”

Fiquei feliz e lhe disse: Então você é linda!

Ela me retribuiu com um abraço e hoje somos grandes amigos.

Acredito que a vida deva ser assim. As pessoas precisam fazer amigos, as pessoas precisam se querer bem, as pessoas precisam deixar de bobagem e seguir adiante, porque, como cantou Renato Russo: “o mundo anda tão complicado”. Somos nós que iremos, por bobagem, complicá-lo ainda mais?

Eu não. Pois “olhei tudo que aprendi e um belo dia eu vi” que a gente deve descomplicar. E “salve, salve a alegria, a pureza e a fantasia”.

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