É tempo de se despedir…

Artigo do conselheiro-corregedor do Tribunal de Contas do Estado da Bahia,  Inaldo da Paixão Santos Araújo.

A Auditoria do Setor Público da Bahia perdeu, na última quarta-feira (11.11.2020), uma personalidade exponencial, tida como um dos maiores auditores da história do centenário Tribunal de Contas do Estado. O nosso amigo e colega Antonio Lins Freire nos deixou aos 86 anos, dos quais 1/4 de século dedicado à Corte de Contas baiana, mas a
marca do seu trabalho, com certeza, permanecerá na história desta Casa de Contas e Controle e, por que não dizer, Casa de Auditoria.

Entre as tantas colaborações do competente profissional que foi Lins Freire, destaca-se o seu empenho na mudança da estrutura das Coordenadorias de Controle Externo com vistas à realização da auditoria governamental conforme modelos internacionais.

De grande relevância foi a sua contribuição para a implantação do modelo internacional de auditoria do setor público desenvolvido pelo, à época, Instituto Latino-americano de Ciências Fiscalizadoras (Ilacif), hoje Organização Latino-americana e do Caribe de Entidades Fiscalizadoras Superiores (Olacefs).

O trabalho de Lins Freire foi, ainda, de grande relevo para a implantação das normas e guias de auditoria governamental. Lins Freire foi um dos principais responsáveis pela realização do primeiro concurso público para o cargo de auditor realizado pelo Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE/BA). Em sua brilhante trajetória, Lins, como era mais conhecido, sempre enfatizou a necessidade de preparação do auditor para o uso da tecnologia da informação como ferramenta de auditoria, filosofia que ganhou corpo na gestão do ex-presidente Adhemar
Martins Bento Gomes. Lembro-me bem de que, em 1985, ele ocupava a função de Assessor Chefe da Assessoria de
Planejamento do TCE/BA.

O que mais seria importante dizer sobre este notável colega ? Antonio Lins Freire era um visionário. Estudioso da auditoria, especialmente no âmbito do controle externo brasileiro, buscava inovações advindas das Entidades Fiscalizadoras Superiores do resto do mundo, particularmente daquelas relacionadas com o controle externo, como
atribuições e principais modalidades de auditoria realizadas por essas entidades. Nas pesquisas realizadas por mote próprio, conheceu a metodologia da Auditoria Integrada utilizada pelo Office of lhe Auditor General of Canadá, identificando-se com ela, que se tornou o principal objeto de estudo do treinamento dos Técnicos de Controle
Externo, realizado a partir do final de janeiro até abril de 1985, oriundos do primeiro concurso externo realizado pelo TCE/BA. O objetivo principal desse treinamento foi capacitar os mencionados técnicos para a realização e a disseminação da referida metodologia no TCE/BA, obtendo êxito no seu propósito, inclusive com a tradução feita
do referido manual do espanhol para o português.

Prova do êxito da sua incessante busca pelo aperfeiçoamento da equipe técnica do TCE/BA foi a posterior aprovação, por ato normativo da Presidência, do Manual de Auditoria Integrada do TCE/BA. Também pode-se destacar, como fruto de sua gestão, o início das negociações com o Banco Mundial no credenciamento deste Tribunal junto àquele Banco, para a realização da auditoria de contratos cofinanciados, cujos recursos eram aplicados no âmbito do Estado
da Bahia. Ele também foi um grande incentivador do Programa Avançado de Auditoria Governamental (PAAG), maior programa de capacitação de auditores na história dos Tribunais de Contas brasileiros.

Ao longo da nossa convivência, rememoro suas palavras de sabedoria: “o auditor deve jogar rede onde existe peixe”; “o Tribunal está mudando, não na velocidade que você deseja, mas está mudando”; “antes de colocar o relatório no papel, você deve tê-lo dentro da cabeça”; “não sei qual a melhor forma, mas essa não está boa”; “para melhorar o Tribunal você precisa olhar para fora e não para dentro”.

É tempo de se despedir daquele que teve uma vida de trabalho, de excelência, de conselhos e que nos deixa muitas saudades.

 

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